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quinta-feira, 11 de abril de 2024

Bangu, a maternidade do futebol brasileiro!

A história e o legado de Thomas Donohoe.


Ao ler o título desse texto você deve estar se perguntando: “Ue, não foi Charles Miller que trouxe o futebol para o Brasil, em especial, para São Paulo? ”. Pois bem, venho aqui trazer uma outra história sobre o nascimento do futebol brasileiro, e seu pano de fundo é o simpático bairro do subúrbio carioca.

Essa história começa em maio de 1894, mês e ano em que Thomas Donohoe chegava ao Brasil. Danau, como era chamado, era um escocês pálido, magro e bigodudo, nascido em 1863 em Busby e que cruzou o Oceano Atlântico para trabalhar na Companhia Progresso Industrial do Brasil, ou Fábrica Têxtil de Bangu.


Donohoe já era um apaixonado pelo esporte bretão desde sua terra natal, e teria trazido com sigo a sua melhor amiga, uma bola de futebol, a 1ª a rolar em terras Tupiniquins, mais especificamente, em solo banguense. A teoria de que o escocês seria o pai do futebol brasileiro tem mais fundamentos lógicos do que documentais, mas mesmo assim deixa aquela dúvida no ar.

A questão toda é que, Charles Miller, de acordo com os registros oficiais, teria organizado a 1ª partida de futebol no Brasil em 15 de abril de 1895, entre funcionários de empresas de São Paulo: a Companhia de Gás e a São Paulo Railway, ambas formadas, em grande parte, por britânicos radicados no país. Ocorre que, esse jogo foi realizado quase 1 ano após a chegada de Donohoe ao Brasil, e o apaixonado escocês teria que ter suportado cerca de um ano sem praticar a sua maior paixão, o futebol. É aí que entra a contestação levantada em Bangu. A versão no bairro é de que a Companhia Progresso Industrial do Brasil, recebeu partidas de futebol ao longo de 1894 em seu pátio. Na 1ª partida, Thomas teria montado duas balizas sem travessão, sem goleiro, com cinco jogadores de cada lado. Isso tudo em uma tarde de domingo, o único momento que os funcionários da fábrica tinham de folga.

De acordo com Carlos Molinari, autor de livros como “Almanaque do Bangu” e “Nós é que somos banguenses”, por Donohoe ter chegado quase 1 ano antes de Charles Miller no Brasil, havia mais do que tempo hábil para a realização da 1ª partida, fora que Bangu, naquela época não possuía nenhuma forma de entretenimento e que se resumia a fábrica e residências. Nem as igrejas serviriam de alento, já que Donohoe e a maioria dos britânicos da fábrica, eram protestantes.

Infelizmente, os registros que defendem a “paternidade” de Thomas Donohoe são escassos. Há citações em livros, registros em arquivos da fábrica e, o mais importante, a tradição oral, com a passagem das histórias de pais para filhos. Porém, não há confirmações oficiais, como aconteceu com Charles Miller.

Hoje, a Companhia Progresso Industrial do Brasil, ou Fábrica Têxtil de Bangu, virou o Shopping Bangu, que mantém parte da estrutura física dos tempos de fábrica. Lá existe uma exposição permanente com espaço reservado ao futebol. Ali estão as chuteiras usadas pelo escocês há mais de 100 anos e também uma réplica daquela que seria a primeira bola usada no Brasil. Há também uma estátua de Thomas Donohoe na entrada do shopping.


Apesar de não estar na ata de inauguração, Donohoe foi um dos fundadores do Bangu Atlético Clube, em 1904. A ideia de formar um clube, anos antes, foi vetada pelo presidente da fábrica. A troca na diretoria deu maior liberalidade à prática do esporte e permitiu que a agremiação nascesse. O futebol ganhava aquele que viraria um dos clubes mais tradicionais do Rio de Janeiro.

Thomas Donohoe, já um quarentão, jogou muito pouco pelo Bangu. Mas seu filho, Patrick Donohoe, foi o maior ídolo do clube nos anos 1910. Foi um goleador, inclusive em clássicos – caso dos dois gols marcados na vitória de 4 a 2 sobre o Flamengo em 1918.


O Donohoe pai morreu em 2 de abril de 1925, sem jamais retornar à Europa. Deixou como legado um clube que seria vice-campeão brasileiro de 1985 e bicampeão carioca, além de uma torcida que dá sentido ao conceito literal de bairrismo.

O escocês que cruzou o mar em busca de uma vida melhor não pensava em pioneirismo, ele só queria fazer o que mais amava, que era jogar futebol.

 

**Esse texto é dedicado a minha esposa, Amanda Fernandes Tatagiba, ex moradora de Bangu e entusiasta da história de Thomas Donohoe.

Por

VICTOR ROCKENBACH

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