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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Centenário de Josué de Castro será lembrado em reunião do Consea em Recife

Sabrina Craide* - Repórter da Agência Brasil / Brasília - Os 100 anos de nascimento do médico e sociólogo pernambucano Josué de Castro serão lembrados hoje (5) na 6ª Plenária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), que será realizada em Recife. Patrono do conselho, Josué é considerado pioneiro e uma referência internacional em estudos sobre as causas da fome.

O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, diz que a obra de Josué abriu o caminho para as políticas de segurança alimentar e nutricional e de apoio à agricultura familiar que estão sendo desenvolvidas hoje no Brasil.

Para Ananias, Josué de Castro foi o primeiro grande cientista social. “Ele colocou o tema da fome e da desnutrição no campo da política, dizendo que a fome é uma manifestação biológica de problemas sociológicos”, avalia.

O ministro lembra que, entre 2003 e 2007, 19 milhões de pessoas saíram da linha de pobreza. Segundo ele, nas 11 milhões de famílias que recebem o benefício do Bolsa Família 92% das crianças têm pelo menos três refeições diárias e mais de 80% dos adultos estão se alimentando melhor. “Estou convencido de que vamos cumprir a meta número um dos objetivos do milênio, da Organização das Nações Unidas para 2015, que é erradicar a fome e reduzir a pobreza”, afirma.

A conselheira Sônia Lucena diz que o trabalho do Consea se identifica com os estudos de Josué de Castro, especialmente quando defende que a solução para a fome deve passar por vários setores da sociedade. “Não podemos pensar que a causa da fome seja única e nem que a solução venha de um milagre ou de uma única pessoa. A solução da fome depende de uma decisão política, de uma grande participação social, e o Consea tem procurado fazer isso”.

Segundo ela, a reunião do Consea em Recife será um reconhecimento à contribuição que Josué de Castro deu ao Brasil e ao mundo.

Josué de Castro foi presidente da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) entre 1952 e 1956. Também foi embaixador do Brasil na Organização das Nações Unidas e foi indicado duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz. Ele morreu em 1973, durante exílio na França.

*Colaborou Akemi Nitahara, da Rádio Nacional

Causas da fome mudaram desde os primeiros estudos de Josué de Castro Sabrina

Craide* Repórter da Agência Brasil / Brasília - Quando o médico e intelectual brasileiro Josué de Castro, que completaria100 anos hoje (5), iniciou os estudos sobre a fome no Brasil e no mundo, na década de 40, a principal causa era a falta de alimentos, especialmente nos países que haviam perdido a 2ª Guerra Mundial. Hoje, existem alimentos disponíveis, mas a população mais pobre não consegue ter acesso a eles por falta de recursos financeiros.

“Hoje, a fome tem a cara da falta de dinheiro e não da falta de produtos. Faltam bons empregos, uma melhor distribuição de renda, maior poder aquisitivo para as pessoas conseguirem consumir o que necessitam”, explica o o diretor para América Latina e Caribe da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano.

A filha de Josué de Castro, a socióloga Anna Maria Castro, lembra que a geografia da fome mudou porque o país se industrializou e a população deixou de ser majoritariamente rural. Para ela, isso piorou a situação. “Antes, você tinha alguma forma de sobrevivência da pequena propriedade, que foi sendo eliminada. A grande denúncia dele [de Josué] era contra o latifúndio e a monocultura e por uma reforma agrária para que todos pudessem ter a terra para poder se alimentar”, afirma.

De acordo com Graziano, que foi o primeiro coordenador do programa Fome Zero, a FAO estima que hoje existam cerca de 60 milhões de subnutridos na América Latina e 880 milhões no mundo, o que representa quase 15% da população mundial. O conceito de subnutrido é aplicado às pessoas que não consomem, no mínimo, 2,2 mil calorias por dia. Graziano explica que o número aumentou nos dois últimos anos por causa da alta dos preços dos alimentos.

Ele diz que a América Latina sofreu bastante com o aumento do preço dos alimentos, porque as pessoas trocaram carne, verduras, legumes e frutas por açúcares e farinhas. “Na América Latina hoje, a fome tem a cara do obeso, porque as pessoas comem mal por falta de condições financeiras ou por falta de conhecimento nutricional”, afirma.

Anna Maria conta que o pai “descobriu” o problema fome, que estava oculto primeiramente no Nordeste, depois no Brasil e no mundo. “Até então, se admitia que a fome era um problema do meio ambiente, da raça, da indolência da população. E ele tentou mostrar que não, que o problema não era a produção de alimentos, mas sim de poder distribuir porque uma grande parcela da população não tinha acesso”, explica. Anna Maria lamenta que hoje em dia muitos países ainda sofram com as conseqüências da fome. “Acho que ele [Josué] nunca esperaria que chegaríamos ao século 21 dessa forma, ele acreditava que, pela ciência e pela técnica, o homem ia poder distribuir melhor a riqueza do país para que todos pudessem participar do alimento”.

Segundo Graziano, a grande contribuição de Josué de Castro para as políticas governamentais adotadas atualmente é a compreensão de que a erradicação da fome não deve partir apenas de uma proposta de governo, mas de toda a sociedade. “Hoje, há estudos que dizem que é mais barato erradicar a fome do que conviver com ela. A fome causa um tal número de efeitos que se torna um negócio antieconômico”, avalia.

Em 2004, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontava que aproximadamente 72 milhões de brasileiros viviam em situação de insegurança alimentar. Desse total, 14 milhões em situação grave.