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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ouro Preto (MG) faz festa para congado

Em Ouro Preto, Minas Gerais, uma das festas mais tradicionais da cidade tomou conta das ladeiras históricas, neste domingo.
Os sinos anunciaram a chegada dos grupos de congado. A festa do reinado de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia foi criada no século 18 para homenagear Chico Rei, líder negro que lutou pela liberdade dos escravos.
Chico Rei era da realeza de Moçambique e veio como escravo para Brasil. Aqui, juntou dinheiro e pagou por sua libertação.
Neste domingo, as ruas ficaram lotadas. Moradores e turistas acompanharam a passagem das guardas. Durante a missa, foi coroado o novo rei da congada, eleito a cada ano.

A tradição popular do congado
A identidade cultural de um povo se expressa sob várias formas: na dança, música, culinária, indumentária e religiosidade. Então, manter suas tradições é uma das formas mais importantes para a identidade permanecer viva, pois a história nos mostra que a dominação sobre os povos subjugados da África, Ásia e América Latina não se deu somente no campo econômico/político, mas principalmente no cultural, mesmo os conflitos atuais como no oriente médio, Afeganistão e Índia.
Para dominar um povo economicamente é necessário também impor hábitos, principalmente de consumo, a guerra é invisível, silenciosa, mudam-se os valores, o ritmo das canções, as roupas, a alimentação e quando se abre os olhos, estamos todos de abadá, acreditando estar vestido de um corte da mais alta costura, fazendo-nos sentir mais especiais, por se estar na moda e engrossar o coro da maioria alienada.
Dentre as várias manifestações culturais ligadas à cultura brasileira, está o congado – folguedo de origem africana, com influências européias, também denominado congo e congada, variando em função da região do país onde o cortejo acontece – cujas festas mesclam ritos africanos e europeus, como uma das grandes expressões da arte negra, mestiça e brasileira, longe do apoio da mídia e mesmo em algumas regiões, dos intelectuais e estudiosos, segue caminhos contrários à indústria cultural.
Trata-se de uma tradição que precisa manter-se viva e a melhor forma de fazê-la, é a renovação, o que seria o cerne da solução é, talvez, o do problema. Uma sociedade capitalista, com supervalorização do indivíduo, superexposição da mídia, banalização dos valores e da tradição, sem contar o uníssono das rádios e programas de entretenimentos televisivos, conscientizar a juventude de sua identidade e a importância de mantê-la viva é tarefa tão árdua quanto um vietcong empunhando seu velho fuzil tentando derrotar o “grande satã”. Atualmente o que se vê manifestado nos jovens é uma tradição que até então era orgulho, virar sinônimo de “vergonha”, no reino dos abadás, não se permite a diversidade, se não é parte da maioria e da unanimidade, você está automaticamente rotulado de “velho” e fora de moda. Permito-me a dizer que nesse reinado, não se aceita a inteligência, pois ser diferente não se coaduna com a mentalidade daqueles que abdicam de seu direito de pensar. Então, convencer os jovens a fazer parte, esbarra nestes empecilhos, ele é desencorajado na medida em que o olhar social o rotula e impele de mostrar sua identidade.
Os caminhos para fortalecer os sons dos tambores e atrair a juventude são variados, perpassa pelo poder público, imprensa, universidades e escolas secundaristas. Os governos, prefeituras e o próprio poder legislativo têm um papel primordial, podem criar leis de incentivo, matérias em currículos escolares, bem como, as instituições educacionais que podem levar para dentro de suas salas de aula, toda a riqueza dessas tradições. Por outro lado, a imprensa precisa buscar mais a notícia e menos a audiência, se ocupar dos conteúdos e não das manchetes. Enquanto esta revolução não acontece, vamos resistindo e fazendo nossa arte, mesmo que os olhares de espanto da tribo dos abadás tentem nos amedrontar com suas obtusidades.

Cosme Elias é professor de sociologia da Faculdade Governador Ozanam Coelho (FAGOC) e autor do livro O samba do Irajá e de outros subúrbios: um estudo da obra de Nei Lopes.
Contato: cosmeelias@yahoo.com.br

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