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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

PLÍNIO MARCOS / Camelô da literatura

Plínio Marcos foi um dos autores mais perseguidos dos “anos de chumbo”, tempos sombrios do regime militar. Em agosto de 1968, a Folha de S.Paulo publica: A situação de Plínio Marcos é a seguinte: trabalho dele que chega em Brasília, antes mesmo de ser lido, os censores dizem: Plínio Marcos? Proibido. Certo dia, o escritor pergunta a um censor por que vetavam tanto suas peças. A resposta: “Porque são pornográficas e subversivas.” “Mas por quê?”, insiste. “São pornográficas porque têm palavrão. E subversivas porque você sabe que não pode escrever com palavrão e escreve”, justificou o censor, ocultando os reais motivos: as peças de Plínio retratam a realidade social, dão voz aos oprimidos; o palavrão é apenas um detalhe. Importante, mas um detalhe.

PRIMEIRO ATO: PALHAÇO
Nascido em Santos a 29 de setembro de 1935, Plínio veio de origem “mais ou menos humilde”. Filho de bancário e dona-de-casa. Sentia dificuldade para se concentrar e não suportava escola: levou quase dez anos para sair do primário.
“Para ser franco, eu, quando pequeno, era tido como débil mental.”
Decidiu aprender uma profissão, funileiro. Transitou por outras atividades, duas delas marcantes: estivador no porto, quando assimilou a linguagem mais usada em suas peças; e camelô, que exerceu em diferentes momentos. Iniciou a carreira artística aos 16 anos, palhaço de circo. Viajou. Já escrevia e dirigia esquetes cômicos.

SEGUNDO ATO: DRAMATURGO
Estreou no teatro com uma ponta na peça para crianças Pluft, o Fantasminha. Enquanto isso, fazia amizades que lhe despertavam o gosto pela literatura. Lia e escrevia incessantemente, o que repetiria pelo resto da vida.
A primeira peça foi inspirada numa notícia de um estupro em Santos: Barrela. No total, escreveria mais de 30, até hoje encenadas por todo o País. “Minhas peças não têm ficção, sabe? Escrevo reportagens”, dizia.
A ação se passa numa cela; diálogos inspirados nas falas dos presos. Leu-a para companheiros do circo e disseram que ele estava louco. Patrícia Galvão, a Pagu, comparou-a com a obra de Nelson Rodrigues. Enviada à censura, foi vetada. Pagu interveio e liberaram para uma única apresentação, em 1959. Ficaria proibida por mais de 20 anos.
Intermezzo

INTERMEZZO
O autor mudou para São Paulo em 1960 e lá ficou até morrer, a 19 de novembro de 1999. Trabalhou como mascate, camelô, carregador, mas nunca se desligou do teatro.
Para driblar a censura, fazia montagens clandestinas ou domésticas. Em 1966, apresenta um dos maiores sucessos, Dois Perdidos numa Noite Suja, inicialmente encenada em um bar. Outros êxitos vieram, como Navalha na Carne, de novo em espetáculos escondidos da mira da censura.

TERCEIRO ATO: IMORTAL
“Fui camelô. Voltei pra rua pra camelar. Não caí. Não bebi. Não chorei. Nem perdi o bom humor.” Como a censura não liberava peça alguma, Plínio começa a editar livros e vendê-los nas ruas. Com seus contos e romances, ganha muitos prêmios. Passa o resto da vida dividido entre palcos e calçadas. “Sou um camelô da literatura. Vendo meus livros, dou autógrafos e prometo morrer logo para valorizar. Sou um escritor imortal, não da ABL, mas porque não tenho onde cair morto.”
Segundo o crítico Sábato Magaldi, o diálogo, em Plínio, é como um torniquete, espreme a situação até o desfecho trágico, preparado exaustivamente para que se torne verossímil. Para ele, Plínio Marcos deu às suas personagens um cunho brasileiro, a verdade do nosso submundo, desde o corte psicológico à linguagem crua.

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