
Por / Por Maria Carolina Maia - Na novela Viver a Vida a personagem Luciana, vivida por Alinne Moraes, sofre um grave acidente que a deixará tetraplégica. A trama dará início ao calvário da modelo, que verá sua vida mudar radicalmente - como é lógico imaginar. Tudo indica, porém, que o trauma abrirá também uma nova fase na vida da moça - leia entrevista com a atriz sobre o assunto.
A história deve repetir, dessa forma, o caminho seguido por muitos tetraplégicos e paraplégicos - no total, eles são 24 milhões no país ou 14,5% da população, segundo o censo divulgado pelo IBGE em 2000. Ao choque que decorre da perda total ou parcial dos movimentos de pernas, braços e tronco, segue-se a recuperação e a criação de uma nova rotina. O cotidiano, sem dúvida, demanda adaptações em relação à vida anterior. Mas, aos poucos, essas pessoas voltam a trabalhar, namorar, ter filhos e, enfim, tocar a vida adiante.
Quatro rodas - A adaptação mais evidente é representada pela cadeira de rodas. Com ela, paraplégicos e tetraplégicos podem ir e vir. "Eu sou praticamente um cidadão independente, faço quase tudo sozinho. Consigo me transferir da cadeira de rodas para o banco do carro, consigo dirigir, tomar banho, me vestir e me alimentar", diz o jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva - cujo drama da tetraplegia foi retratado no livro Feliz Ano Velho, best seller na década de 1980. Paiva é também um militante da causa dos deficientes físicos: foi dele a ideia de adaptar a frota de táxis de São Paulo para receber esse público.
As mudanças fazem parte da rotina de pessoas com deficiência. Mas não as impedem de viver. Ao contrário, como conta Sergio Lianza, professor-responsável pela disciplina de reabilitação da Santa Casa de São Paulo. No primeiro ano de lesão medular, diz Lianza, o paciente deve prestar especial atenção ao tratamento fisioterápico, para que não se torne totalmente dependente de outras pessoas. "Tomados os cuidados necessários, a pessoa segue em frente normalmente, com a mesma expectativa de vida de antes", afirma o médico.
Além da fisioterapia, é recomendável manter uma agenda de exercícios. Isso impede que o portador de deficiência física engorde, cultive colesterol e afaste as chances de enfarte.
A vereadora paulistana Mara Gabrilli é exemplar nesse quesito. Sem movimentos nas pernas e mãos desde 1994, ela precisa de ajuda até para coçar o nariz. Mas faz exercícios todos os dias. "Eu trabalho todos os músculos, do pescoço ao pé, e faço eletroestimulação neles uma vez por semana", conta a vereadora, em forma aos 42 anos. "Preciso de ajuda para tudo, mas não deixo de fazer nada. Meu banho é quase uma fisioterapia. Peço para as moças que me ajudam que me lavem com minha mão. E, quando como, é também com minha mão, conduzida por elas. É mais prazeroso assim."
Por dentro e por fora - Pouca gente sabe, mas manter controle sobre o intestino e a bexiga é um dos maiores desafios de quem está em uma cadeira de rodas. "É preciso reeducar os órgãos para condicioná-los a trabalhar em horários determinados", revela Fernando Fernandes, ex-modelo e ex-participante do Big Brother Brasil.
Ele sofreu um acidente de automóvel em julho, em São Paulo. Desde então, não sente as pernas e não sabe se voltará a andar. Mas está animado com a independência conquistada na fase de reabilitação. Ele já pratica esportes e toma banho sozinho.
Sexo, sim - O ritmo pode mudar. Mas o sexo, como a vida, continua para esses deficientes físicos. Para a mulher, as mudanças incluem a descoberta de novas zonas de prazer. "Como as sensações que geram orgasmo não são apenas genitais, ela acaba encontrando outros caminhos", afirma Lianza. Pode haver também alteração no ciclo menstrual no período imediatamente posterior à lesão. Depois, volta tudo ao normal.
Para o homem, a principal novidade é a ereção reflexa. "Quando você quer ter uma relação, não tem controle, é uma bagunça. Mas, com o tempo, você vai conhecendo seu corpo e a sensibilidade vai voltando", diz o tetraplégico Fabiano Puhlmann, de 43 anos, psicólogo e autor do livro A Revolução Sexual sobre Rodas. Puhlmann é casado há 12 anos.
Há casos em que a ereção involuntária é preservada, mas não é tão boa. Aí, pode-se fazer uso de drogas como o Viagra. A ejaculação também pode ser dificultada, mas em geral acontece. E, mesmo que não ocorra, ou que aconteça de maneira retrógrada - quando o sêmen vai para a bexiga, de onde é eliminado com a urina –, não se perde a possibilidade de ser pai. Uma coleta de sêmen, a ser introduzido na parceira, resolve a questão.
Alinne Moraes: o desafio da tetraplégica Luciana
Por Maria Carolina Maia)
Aos 26 anos, a modelo-atriz Alinne Moraes já registra ao menos três papéis difíceis na carreira. Em 2003, deu corpo a uma menina lésbica na novela Mulheres Apaixonadas. Quatro anos depois, viveu a vilã Silvia, de Duas Caras. Agora, em Viver a Vida, novela das 21h da Rede Globo, ela faz Luciana, uma modelo ambiciosa que se torna tetraplégica após um acidente. De todos os papéis, este é o maior desafio, conclui a sorocabana radicada no Rio. Especialmente pelo que exigirá dela fisicamente - Luciana terá movimento parcial dos braços e nenhum das pernas. Para viver a personagem, Alinne vem fazendo laboratório e realizando muita pesquisa. Na entrevista a seguir, ela fala sobre o processo de preparação.
O que você sentiu quando recebeu o convite para viver a Luciana?
Eu soube em abril que viveria a Luciana, e fiquei surpresa com a escolha. Depois, quando tive mais informações da história da personagem e li os primeiros capítulos da novela, percebi que esse seria o meu maior desafio até hoje. E, se o Jayme [Monjardim, diretor] e o Maneco [Manoel Carlos, autor da trama] me deram a Luciana, é porque estão seguros da escolha. Me sinto honrada.
O papel envolve também marketing social. O que você espera dessa personagem?
Acho que a novela poderá não só ajudar as pessoas com deficiência, mas abrir os olhos daqueles que desconhecem esse drama. Vamos contar uma história linda e verdadeira.
Como está sendo a sua preparação?
Para fazer a Luciana, conheci algumas pessoas, como a Flávia Cintra, que é consultora da novela. Eu me aproximei bastante dela, que é jornalista, casada e mãe de duas fofuras de dois anos de idade. Há 18 anos, ela sofreu um acidente que a deixou tetraplégica. Estamos sempre nos falando, e eu estou aprendendo muitas coisas. Uma delas é que a sociedade não os enxerga de verdade. Eu também treinei com uma professora que foi colocada à minha disposição e fiz um laboratório à minha maneira.
O que pesa mais na composição da Luciana, o lado físico ou emocional?
A minha preocupação é mais com a questão do corpo e dos movimentos, e não com o emocional. Conheci pessoas com diferentes níveis de deficiência e com histórias distintas, e acompanhei suas ações: vi como trocam de roupa, cozinham, cuidam dos filhos, tomam banho, escovam os dentes.
Você pretende se basear mais nos movimentos de alguma pessoa específica, como a Flávia Cintra?
Não. Acompanhando essas diversas pessoas, eu percebi que, apesar de todas terem em comum a deficiência, elas são bem diferentes, agem de forma distinta. Isso me possibilita uma liberdade de atuação.
O acidente afastará Luciana das passarelas?
Eu tenho pouca informação ainda sobre a nova situação da Luciana, porque não recebi os capítulos futuros. Estou aberta às surpresas que chegarão do Manoel Carlos.
A história deve repetir, dessa forma, o caminho seguido por muitos tetraplégicos e paraplégicos - no total, eles são 24 milhões no país ou 14,5% da população, segundo o censo divulgado pelo IBGE em 2000. Ao choque que decorre da perda total ou parcial dos movimentos de pernas, braços e tronco, segue-se a recuperação e a criação de uma nova rotina. O cotidiano, sem dúvida, demanda adaptações em relação à vida anterior. Mas, aos poucos, essas pessoas voltam a trabalhar, namorar, ter filhos e, enfim, tocar a vida adiante.
Quatro rodas - A adaptação mais evidente é representada pela cadeira de rodas. Com ela, paraplégicos e tetraplégicos podem ir e vir. "Eu sou praticamente um cidadão independente, faço quase tudo sozinho. Consigo me transferir da cadeira de rodas para o banco do carro, consigo dirigir, tomar banho, me vestir e me alimentar", diz o jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva - cujo drama da tetraplegia foi retratado no livro Feliz Ano Velho, best seller na década de 1980. Paiva é também um militante da causa dos deficientes físicos: foi dele a ideia de adaptar a frota de táxis de São Paulo para receber esse público.
As mudanças fazem parte da rotina de pessoas com deficiência. Mas não as impedem de viver. Ao contrário, como conta Sergio Lianza, professor-responsável pela disciplina de reabilitação da Santa Casa de São Paulo. No primeiro ano de lesão medular, diz Lianza, o paciente deve prestar especial atenção ao tratamento fisioterápico, para que não se torne totalmente dependente de outras pessoas. "Tomados os cuidados necessários, a pessoa segue em frente normalmente, com a mesma expectativa de vida de antes", afirma o médico.
Além da fisioterapia, é recomendável manter uma agenda de exercícios. Isso impede que o portador de deficiência física engorde, cultive colesterol e afaste as chances de enfarte.
A vereadora paulistana Mara Gabrilli é exemplar nesse quesito. Sem movimentos nas pernas e mãos desde 1994, ela precisa de ajuda até para coçar o nariz. Mas faz exercícios todos os dias. "Eu trabalho todos os músculos, do pescoço ao pé, e faço eletroestimulação neles uma vez por semana", conta a vereadora, em forma aos 42 anos. "Preciso de ajuda para tudo, mas não deixo de fazer nada. Meu banho é quase uma fisioterapia. Peço para as moças que me ajudam que me lavem com minha mão. E, quando como, é também com minha mão, conduzida por elas. É mais prazeroso assim."
Por dentro e por fora - Pouca gente sabe, mas manter controle sobre o intestino e a bexiga é um dos maiores desafios de quem está em uma cadeira de rodas. "É preciso reeducar os órgãos para condicioná-los a trabalhar em horários determinados", revela Fernando Fernandes, ex-modelo e ex-participante do Big Brother Brasil.
Ele sofreu um acidente de automóvel em julho, em São Paulo. Desde então, não sente as pernas e não sabe se voltará a andar. Mas está animado com a independência conquistada na fase de reabilitação. Ele já pratica esportes e toma banho sozinho.
Sexo, sim - O ritmo pode mudar. Mas o sexo, como a vida, continua para esses deficientes físicos. Para a mulher, as mudanças incluem a descoberta de novas zonas de prazer. "Como as sensações que geram orgasmo não são apenas genitais, ela acaba encontrando outros caminhos", afirma Lianza. Pode haver também alteração no ciclo menstrual no período imediatamente posterior à lesão. Depois, volta tudo ao normal.
Para o homem, a principal novidade é a ereção reflexa. "Quando você quer ter uma relação, não tem controle, é uma bagunça. Mas, com o tempo, você vai conhecendo seu corpo e a sensibilidade vai voltando", diz o tetraplégico Fabiano Puhlmann, de 43 anos, psicólogo e autor do livro A Revolução Sexual sobre Rodas. Puhlmann é casado há 12 anos.
Há casos em que a ereção involuntária é preservada, mas não é tão boa. Aí, pode-se fazer uso de drogas como o Viagra. A ejaculação também pode ser dificultada, mas em geral acontece. E, mesmo que não ocorra, ou que aconteça de maneira retrógrada - quando o sêmen vai para a bexiga, de onde é eliminado com a urina –, não se perde a possibilidade de ser pai. Uma coleta de sêmen, a ser introduzido na parceira, resolve a questão.
Alinne Moraes: o desafio da tetraplégica Luciana
Por Maria Carolina Maia)

O que você sentiu quando recebeu o convite para viver a Luciana?
Eu soube em abril que viveria a Luciana, e fiquei surpresa com a escolha. Depois, quando tive mais informações da história da personagem e li os primeiros capítulos da novela, percebi que esse seria o meu maior desafio até hoje. E, se o Jayme [Monjardim, diretor] e o Maneco [Manoel Carlos, autor da trama] me deram a Luciana, é porque estão seguros da escolha. Me sinto honrada.
O papel envolve também marketing social. O que você espera dessa personagem?
Acho que a novela poderá não só ajudar as pessoas com deficiência, mas abrir os olhos daqueles que desconhecem esse drama. Vamos contar uma história linda e verdadeira.
Como está sendo a sua preparação?
Para fazer a Luciana, conheci algumas pessoas, como a Flávia Cintra, que é consultora da novela. Eu me aproximei bastante dela, que é jornalista, casada e mãe de duas fofuras de dois anos de idade. Há 18 anos, ela sofreu um acidente que a deixou tetraplégica. Estamos sempre nos falando, e eu estou aprendendo muitas coisas. Uma delas é que a sociedade não os enxerga de verdade. Eu também treinei com uma professora que foi colocada à minha disposição e fiz um laboratório à minha maneira.
O que pesa mais na composição da Luciana, o lado físico ou emocional?
A minha preocupação é mais com a questão do corpo e dos movimentos, e não com o emocional. Conheci pessoas com diferentes níveis de deficiência e com histórias distintas, e acompanhei suas ações: vi como trocam de roupa, cozinham, cuidam dos filhos, tomam banho, escovam os dentes.
Você pretende se basear mais nos movimentos de alguma pessoa específica, como a Flávia Cintra?
Não. Acompanhando essas diversas pessoas, eu percebi que, apesar de todas terem em comum a deficiência, elas são bem diferentes, agem de forma distinta. Isso me possibilita uma liberdade de atuação.
O acidente afastará Luciana das passarelas?
Eu tenho pouca informação ainda sobre a nova situação da Luciana, porque não recebi os capítulos futuros. Estou aberta às surpresas que chegarão do Manoel Carlos.
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