Felipe Sáles, Jornal do Brasil / RIO - Quando a crise financeira anunciava um nada próspero ano novo, a cozinheira Cristiana Oliveira, 26 anos, se tornava mais uma vítima, duas semanas antes do Natal. Mãe solteira por opção – diga-se de passagem de quatro filhos – Cristiana foi demitida da empresa onde trabalhava e, em vez de garantir o pé-de-meia para os tempos de crise que se avizinhavam, investiu na ceia natalina e não abandonou a fé. Seria recompensada ainda na primeira quinzena de janeiro, graças aos amigos e ao verão escaldante do Rio, que incentivou a produção diária de cerca de 1.800 Sucolés do Claudinho e garantiu seu emprego.
Cristiana é só um entre tantos exemplos de mulheres que, além de cuidarem do lar, enfrentam o mercado de trabalho em meio ao colapso financeiro.
– Na hora fiquei sem chão, com medo do mercado e da crise – conta. – Contei muito com a sorte. A patroa pagou tudo o que tinha direito antes do Natal e conseguimos fazer uma boa ceia.
Moradora do Parque Fluminense, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, Cristiana encontrou apoio nos próprios vizinhos – no caso, Luiz Cláudio Barros, o Claudinho do Sucolé que, após 19 anos no ramo, hoje conta com 21 funcionários e um faturamento bruto da ordem de R$ 20 mil por semana – dependendo do sol, claro.
– Acabei sendo mais feliz na família sucolé, pois tenho mais tempo para meus filhos – comemorou Cristiana, mãe de dois casais de 10, nove, cinco e quatro anos. – Meu pai me ajuda a levar as crianças ao colégio, onde ficam o tempo todo. Eu acordo cedo já torcendo pelo sol.
Por semana são vendidos – a R$ 3 cada – cerca de 7 mil sucolés produzidos por Cristiana e outras seis pessoas, incluindo Marta Domingues Barros, 48, mulher de Claudinho. Sem descuidar do lar, ela já chegou a trabalhar até de manhã fazendo vigília dos sucolés a serem trocados nos freezers.
– Não temos empregada, então temos de nos desdobrar. Às vezes pedimos quentinha ou fazemos mutirão na cozinha – explica. – Já até dormi em pé no freezer!
Salário cai pela metade
Quando a crise começou a assombrar os palácios presidenciais mundo afora, a recessão já atingia os bolsos dos catadores de lixo do Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, em Caxias. Há três meses as vendas de papelão – principal produto dos catadores – foram paralisadas, afirma a catadora Glória dos Santos, 33 anos, diretora da Associação de Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho. Em seguida veio a redução no preço do alumínio que, de R$ 4 o quilo, passou para R$ 1. Com isso, a média salarial de R$ 1.300 caiu pela metade.
– Houve muita especulação. Os empresários se aproveitaram para baixar o preço e somos nós que sofremos – criticou. – Não é normal o preço cair tanto em tão pouco tempo. Hoje não faz diferença vendermos para São Paulo ou Paraná, os preços estão todos tabelados.
Glória é filha de catadora e a família sobrevive do lixo. Ela acorda às 6h e às vezes fica até 1h em reuniões na associação, lutando pela valorização da categoria. Mãe de uma jovem de 15 anos, não vê problema na filha seguir os passos da família.
– Luto pela valorização da categoria e realmente não vejo problema – comentou. – O que eu quero é que ela estude e tenha opções, coisa que eu não tive.
Batalhas semelhantes – e mais arriscadas – também são travadas por Maria de Lourdes, 34. Camelô desde os 12 anos, mãe de três filhos – de 18, 14 e 6 anos – foi uma das fundadoras do Movimento de União dos Camelôs após o nascimento do último filho quando, pós-operada, voltou a trabalhar, apanhou de guardas municipais e ficou um mês internada.
– Tínhamos de fazer alguma coisa, e a categoria se uniu – disse. – Hoje o maior problema é o prefeito.
Cristiana é só um entre tantos exemplos de mulheres que, além de cuidarem do lar, enfrentam o mercado de trabalho em meio ao colapso financeiro.
– Na hora fiquei sem chão, com medo do mercado e da crise – conta. – Contei muito com a sorte. A patroa pagou tudo o que tinha direito antes do Natal e conseguimos fazer uma boa ceia.
Moradora do Parque Fluminense, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, Cristiana encontrou apoio nos próprios vizinhos – no caso, Luiz Cláudio Barros, o Claudinho do Sucolé que, após 19 anos no ramo, hoje conta com 21 funcionários e um faturamento bruto da ordem de R$ 20 mil por semana – dependendo do sol, claro.
– Acabei sendo mais feliz na família sucolé, pois tenho mais tempo para meus filhos – comemorou Cristiana, mãe de dois casais de 10, nove, cinco e quatro anos. – Meu pai me ajuda a levar as crianças ao colégio, onde ficam o tempo todo. Eu acordo cedo já torcendo pelo sol.
Por semana são vendidos – a R$ 3 cada – cerca de 7 mil sucolés produzidos por Cristiana e outras seis pessoas, incluindo Marta Domingues Barros, 48, mulher de Claudinho. Sem descuidar do lar, ela já chegou a trabalhar até de manhã fazendo vigília dos sucolés a serem trocados nos freezers.
– Não temos empregada, então temos de nos desdobrar. Às vezes pedimos quentinha ou fazemos mutirão na cozinha – explica. – Já até dormi em pé no freezer!
Salário cai pela metade
Quando a crise começou a assombrar os palácios presidenciais mundo afora, a recessão já atingia os bolsos dos catadores de lixo do Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, em Caxias. Há três meses as vendas de papelão – principal produto dos catadores – foram paralisadas, afirma a catadora Glória dos Santos, 33 anos, diretora da Associação de Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho. Em seguida veio a redução no preço do alumínio que, de R$ 4 o quilo, passou para R$ 1. Com isso, a média salarial de R$ 1.300 caiu pela metade.
– Houve muita especulação. Os empresários se aproveitaram para baixar o preço e somos nós que sofremos – criticou. – Não é normal o preço cair tanto em tão pouco tempo. Hoje não faz diferença vendermos para São Paulo ou Paraná, os preços estão todos tabelados.
Glória é filha de catadora e a família sobrevive do lixo. Ela acorda às 6h e às vezes fica até 1h em reuniões na associação, lutando pela valorização da categoria. Mãe de uma jovem de 15 anos, não vê problema na filha seguir os passos da família.
– Luto pela valorização da categoria e realmente não vejo problema – comentou. – O que eu quero é que ela estude e tenha opções, coisa que eu não tive.
Batalhas semelhantes – e mais arriscadas – também são travadas por Maria de Lourdes, 34. Camelô desde os 12 anos, mãe de três filhos – de 18, 14 e 6 anos – foi uma das fundadoras do Movimento de União dos Camelôs após o nascimento do último filho quando, pós-operada, voltou a trabalhar, apanhou de guardas municipais e ficou um mês internada.
– Tínhamos de fazer alguma coisa, e a categoria se uniu – disse. – Hoje o maior problema é o prefeito.
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