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domingo, 11 de maio de 2008

Você decide!

“Viver cada dia como se fosse o último”. Essa expressão fascina muita gente. Até mesmo aquele sujeito prudente, cheio de ponderações e preocupações, daqueles que antes de tomar uma decisão, pesa mil prós e mil contras. Já fizeram muitas músicas em cima dessa expressão. Tem gente que leva tão a sério essas palavras que a cada dia vive mais e mais intensamente chegando a sair do território do bom senso e desembocando num mar de ansiedade, o que definitivamente não é bom. Pessoas que vivem cada dia como se fosse o último agem como se fossem morrer porque acreditam que há separação entre vida e morte. Porque consideram a morte como uma coisa separada da vida. Porque temem a morte. Ora, pode o fim, que é a morte, ser conhecido, enquanto vivemos? Se pudéssemos saber o que é a morte, enquanto vivemos, não teríamos mais problema algum. Temos medo porque não podemos conhecer o desconhecido que chamamos morte enquanto vivemos. Não podemos conhecer a morte enquanto vivemos, por isso temos medo da morte. O que na verdade isto significa é que temos medo de perder a vida. A nossa mente só teme aquilo que ela não conhece. Lutamos por estabelecer uma relação entre nós mesmos, que somos o resultado do conhecido, e o desconhecido, que chamamos morte. Vida e morte - por que separamos as duas coisas? Porque a nossa mente só pode funcionar na esfera do conhecido, na esfera do contínuo. No fundo, não queremos conhecer a vida que inclui a morte, só queremos saber como continuar a existir, sem nunca chegar ao fim (uma prova do quanto somos egoístas).
Só quando morremos cada dia para tudo que é velho, pode haver o novo. O novo não pode existir onde há continuidade, sendo o novo atividade criadora, o desconhecido, o eterno ou como quiser chamá-lo. Só findando, só morrendo, pode o novo tornar-se conhecido; e o homem que deseja achar uma relação entre a vida e a morte, estabelecer uma ponte entre o contínuo e o que ele pensa que existe além, está vivendo num mundo fictício, num mundo irreal, que é projeção de si próprio.
Reflita comigo, o que seria melhor? “Viver cada dia como se fosse o último”, ou “Viver cada dia como se fosse o primeiro”? Já tivemos uma idéia de como age mais ou menos uma pessoa que vive cada dia como se fosse o último, certo? Agora vamos ter mais ou menos uma idéia de como age uma pessoa que vive cada dia como se fosse o primeiro?
Uma pessoa que vive cada dia como se fosse o primeiro procura compreender o processo da sua maneira de pensar. Essa pessoa é criadora na acepção mais exata da palavra, é livre do passado, momento por momento, porque ela tem consciência que é o passando que vive assombrando o presente. Essa pessoa não vive apegada apenas, ao que aprendeu, às experiências de terceiros, ou o que foi dito por outros, por mais importantes que eles sejam. Essa pessoa para descobrir qualquer coisa nova, começa com seus próprios recursos, inicia sua jornada despojada de tudo, principalmente do saber. Porque é muito fácil, pelo saber e pela crença, ter experiências, mas essas experiências são meros produtos de auto-projeção e, por conseguinte, irreais, falsas. Essa pessoa sabe que se desejar descobrir por ela mesma o que é o novo, de nada servirá levar a carga do velho. Tem que morrer para o passado para que o novo possa entrar.
Uma pessoa que vive cada dia como se fosse o primeiro sabe que para descobrir a verdade, não há caminho algum. Tem que entrar no mar desconhecido – o que não é desanimador nem empresa aventurosa. Essa pessoa quando deseja algo novo, quando está investigando qualquer coisa, a sua mente está tranqüila. Porque só assim, com a mente quieta, com a mente tranqüila, morta para o velho, surgirá o novo, o desconhecido.
E agora, o que você prefere? “Viver cada dia como se fosse o último”, ou “Viver cada dia como se fosse o primeiro”?
Faça a sua escolha! Você decide!
(Texto / Huayrãn Ribeiro)

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