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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Premiada biografia de D. Pedro II ganha versão com ilustrações de Spacca

A imagem que se tem de Dom Pedro II é a de um homem envelhecido. Morto antes dos 70 anos de idade, os retratos do último imperador do Brasil mostram fartas barbas brancas e um olhar frio. Isso é fruto da construção da personalidade do monarca, destinado a subir ao trono ainda cedo. A historiadora Lilia Moritz Schwarcz, no livro As barbas do imperador, vencedor do Prêmio Jabuti de 1999, mostra como foi fabricado o governante e explica um pouco do país à época e a dissimulação da monarquia em retratar a imagem da nação e de seu mais longínquo mandatário. Uma adaptação para os quadrinhos, com ilustrações do renomado Spacca e textos da própria Lilia, chega agora ao mercado.
 (Cia das Letras/Reprodução)

A colaboração entre escritora e ilustrador - que, juntos, desenvolveram o best-seller D. João carioca - vai desde o nascimento de Pedro de Alcântara, passa pela partida de D. Pedro I rumo a Portugal, pelo rito de coroação como D. Pedro II aos 7 anos de idade, pela Guerra do Paraguai e culmina na morte do derradeiro imperador do país. Por meio de desenhos inspirados em pinturas do francês Jean-Baptiste Debret e de outros artistas que retrataram o Brasil à época, e textos adequados à linguagem em quadros, Spacca e Lilia mostram como os símbolos foram utilizados por D. Pedro II para manter o poder. Afinal, como diz a própria Lilia, os quadrinhos “são um bom meio para explicar os fatos de maneira caricatural”.

Nessa representação, fica claro como o conceito de “monarca moderno” está atrelado ao uso da fotografia. Enquanto outros reis e imperadores usavam a pintura a óleo no retrato deles mesmos, D. Pedro II foi um entusiasta de primeira viagem dos daguerreótipos, construindo o que Lilia Moritz Schwarcz define como um “circuito fechado”. “O próprio D. Pedro II era fotógrafo. Os profissionais que vinham de fora eram financiados e patrocinados pelo Estado, portanto as fotografias que retratam o Brasil da época são uma construção da monarquia”, explica. “É por isso que, em um país em que 75% da população era escrava, os retratos eram de uma nação feliz, na qual os escravos eram passivos, o que é mentira”, completa.

A importância do relato, considerado um marco na historiografia brasileira por encarar de forma original a mística da monarquia do país, então, se dá em “lembrar o passado para entender o presente”, segundo a própria autora. O racismo velado, aquele não falado, mas presente no cotidiano, bastante presente em um país tão celebrado pela diversidade, é bastante influenciado pela figura de D. Pedro II, personalidade ainda hoje popular entre os brasileiros.

“Até muito pouco tempo atrás, persistia no Brasil a ideia de se querer um governante diferente do cidadão comum, como era o caso do último imperador, loiro, alto, de olhos azuis e de família europeia”, diz Lilia. “A situação mudou, até com a figura do Lula no poder. Entretanto, se olharmos os dados de mercado de trabalho, homicídios, renda, entre outros, veremos que o Brasil ainda é, sim, um país que discrimina negros e indígenas”, contrapõe. 

entrevista >> Lilia Moritz Schwarcz

O que mudou no Brasil desde a monarquia?

A partir dos anos 1970, com as reivindicações dos direitos civis pelos movimentos sociais, o Brasil começou a mudar. Pelo menos no processo institucional, a nação se mostra segura como república. Mas ainda somos herdeiros do fato de ser o último país a abolir a escravidão. Esse culto pela figura do monarca, tudo que faz sucesso vira rei – é só ver Pelé e Roberto Carlos. No carnaval, há o desfile de reis. O endeusamento da monarquia continua.
 (Cia das Letras/Divulgação)
Qual o espaço do negro hoje no Brasil? E do indígena, tão romantizado pelo Império? Como isso mudou ao longo dos anos?
Não dá para representá-los tão passivamente como na época. No grande encontro entre brancos e indígenas, estes tiveram a população reduzida em mais de 75%. Hoje, têm muito mais reivindicações. O mesmo em relação aos negros, há uma historiografia em relação à escravidão muito rigorosa: como eles agiam, reagiam, fugiam, não eram passivos à condição inferior. Desde os anos 1970, o Brasil evolui nesse sentido, mas continuamos sendo um país que discrimina.
No livro, fica claro o distanciamento entre o Brasil e as nações mais desenvolvidas à época. Como você percebe essa situação hoje?
Dou aula fora do Brasil desde 2006. Passei por EUA, França, Alemanha, Holanda e Inglaterra. No começo, era essa questão mais exótica: capoeira, candomblé e carnaval. Isso mudou um tanto depois da crise econômica mundial. A inserção do país é outra, a importância também. Por outro lado, eles veem muito mais os problemas daqui. O Brasil é ainda muito o “outro”, mas a discussão está mudando. Vamos ver o que vem agora, nesses anos de eventos esportivos…



Serviço
As barbas do imperador:
D. Pedro II, a história de um monarca em quadrinhos
De Lilia Moritz Scharcwz e Spacca. Quadrinhos na Cia,
144 páginas.

Preço sugerido: R$ 49


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