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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Religião — como começou? (Parte 8) Apostasia — bloqueado o caminho a Deus

POR QUE são tão importantes os primeiros 400 anos da história da cristandade? Pela mesma razão que são importantes os primeiros anos da vida duma criança — são anos formativos, quando se lança a base para a futura personalidade da pessoa. O que revelam os primeiros séculos da cristandade?
Antes de respondermos a esta pergunta, lembremo-nos de uma verdade que Jesus Cristo expressou: “Entrai pelo portão estreito; porque larga e espaçosa é a estrada que conduz à destruição, e muitos são os que entram por ela; ao passo que estreito é o portão e apertada a estrada que conduz à vida, e poucos são os que o acham.” A estrada da conveniência é larga; a de princípios corretos é estreita. — Mateus 7:13, 14.
No início do cristianismo, havia dois caminhos possíveis à escolha de quem abraçasse essa fé impopular — apegar-se aos não transigentes ensinos e princípios de Cristo e das Escrituras, ou tender para a ampla e cômoda trilha da transigência com o mundo de então. Como veremos, a história dos primeiros 400 anos mostra qual foi a vereda que a maioria por fim escolheu.
A Sedução da FilosofiaO historiador Will Durant explica: “A igreja não se limitou a tomar algumas formas e costumes religiosos da Roma [pagã] pré-cristã — a estola e outras vestes sacerdotais, o uso do incenso e da água benta nas purificações, os círios e a luz perpetuamente acesa nos altares, a veneração dos santos, a arquitetura da basílica, a lei romana como base da lei canônica, o título de Pontifex Maximus para o Supremo Pontífice, e no século IV o latim . . . Em breve os bispos, em vez dos prefeitos romanos, seriam a fonte da ordem e a sede do poder nas cidades, os metropolitanos, ou arcebispos, iriam sustentar, senão suplantar, os governadores provinciais; e o sínodo dos bispos sucederia à Assembléia provincial. A Igreja Romana seguiu nas pegadas do Estado Romano.” — A História da Civilização: Volume III — César e Cristo.
Essa atitude de transigência com o mundo romano contrasta-se nitidamente com os ensinos de Cristo e dos apóstolos. O apóstolo Pedro aconselhou: “Amados, . . . estou acordando as vossas claras faculdades de pensar por meio dum lembrete, para que vos lembreis das declarações anteriormente feitas pelos santos profetas e do mandamento do Senhor e Salvador por intermédio dos vossos apóstolos. Vós, portanto, amados, tendo este conhecimento adiantado, guardai-vos para que não sejais desviados com eles pelo erro dos que desafiam a lei e não decaiais da vossa firmeza.” Paulo aconselhou claramente: “Não vos ponhais em jugo desigual com incrédulos. Pois, que associação tem a justiça com o que é contra a lei? Ou que parceria tem a luz com a escuridão? . . . ‘“Portanto, saí do meio deles e separai-vos”, diz Jeová, “e cessai de tocar em coisa impura”’; ‘“e eu vos acolherei.”’” — 2 Pedro 3:1, 2, 17; 2 Coríntios 6:14-17; Revelação [Apocalipse] 18:2-5.
Apesar dessa clara admoestação, cristãos apóstatas do segundo século lançaram mão de todos os ornatos da religião romana pagã. Desviaram-se de sua origem bíblica pura e, em seu lugar, revestiram-se de paramentos e títulos romanos pagãos e ficaram imbuídos da filosofia grega. O professor Wolfson, da Universidade de Harvard, EUA, explica em The Crucible of Christianity (O Crisol do Cristianismo) que, no segundo século, houve um grande influxo de “gentios de formação filosófica” no cristianismo. Estes admiravam a sabedoria dos gregos e julgavam ver similaridades entre a filosofia grega e os ensinos das Escrituras. Wolfson continua: “Diversificadamente, eles às vezes se expressam no sentido de que a filosofia é a dádiva especial de Deus aos gregos, através do raciocínio humano, assim como as Escrituras o são para os judeus, através de revelação direta.” Ele continua: “Os Pais da Igreja . . . deram início a seu empreendimento sistemático de mostrar como, por trás da despretensiosa linguagem que as Escrituras gostam de usar, estão ocultos os ensinamentos dos filósofos enunciados nos obscuros termos técnicos cunhados em suas Academias, Liceus e Pórticos [centros de conferências filosóficas].”
Tal atitude abriu o caminho para a infiltração da filosofia e da terminologia gregas nos ensinos da cristandade, especialmente nos campos da doutrina trinitarista e da crença numa alma imortal. Como diz Wolfson: “Os Pais [da igreja] passaram a buscar nas reservas da terminologia filosófica dois bons termos técnicos, um dos quais seria usado para designar a realidade da distinção de cada membro da Trindade como indivíduo, e o outro para designar a sua fundamental união comum.” Todavia, tiveram de admitir que “o conceito de um Deus trino é um mistério que não pode ser solvido por raciocínio humano”. Em contraste, Paulo reconhecera claramente o perigo de tal contaminação e ‘desvirtuamento das boas novas’ quando escreveu aos cristãos gálatas e colossenses: “Acautelai-vos: talvez haja alguém que vos leve embora como presa sua, por intermédio de filosofia [grego: fi·lo·so·fí·as] e de vão engano, segundo a tradição de homens, segundo as coisas elementares do mundo e não segundo Cristo.” — Gálatas 1:7-9; Colossenses 2:8; 1 Coríntios 1:22, 23.
Anulada a Ressurreição
Como temos visto neste livro, o homem sempre se tem debatido com o enigma de sua curta e limitada existência, que finda na morte. Como disse o escritor alemão Gerhard Herm em seu livro Os Celtas — O Povo Que Saiu da Obscuridade (em inglês): “Religião é, entre outras coisas, uma maneira de fazer as pessoas se resignarem com o fato de que algum dia terão de morrer, seja com a promessa de uma vida melhor no além, seja com o renascimento, ou com ambos.” Praticamente toda religião funda-se na crença de que a alma humana é imortal e que, após a morte, ela viaja para viver no além, ou transmigra para outra criatura.
Quase todas as religiões da moderna cristandade também aderem a essa crença. Miguel de Unamuno, destacado erudito espanhol do século 20, escreveu sobre Jesus: “Ele cria na ressurreição da carne [como no caso de Lázaro à maneira judaica, não na imortalidade da alma, à maneira platônica [grega]. . . . Podem-se ver as provas disso em qualquer livro de interpretação honesto.” Ele concluiu: “A imortalidade da alma . . . é um dogma filosófico pagão.” (La Agonía Del Cristianismo) Esse “dogma filosófico pagão” infiltrou-se nos ensinos da cristandade, embora Cristo obviamente não alimentasse tal idéia. — Mateus 10:28; João 5:28, 29; 11:23, 24.
A sutil influência da filosofia grega foi um fator determinante na apostasia que seguiu à morte dos apóstolos. O ensino grego da alma imortal implicava a necessidade de várias destinações para a alma — céu, inferno de fogo, purgatório, paraíso, limbo. Manipulando tais ensinos, tornou-se fácil para a classe sacerdotal manter seus rebanhos submissos e no temor do Além e extorquir deles dádivas e doações. Isto nos leva a outra pergunta: Como se originou essa separada classe sacerdotal de clérigos da cristandade? — João 8:44; 1 Timóteo 4:1, 2.
Como Surgiu a Classe Clerical
Outro sinal de apostasia foi o abandono do ministério geral de todos os cristãos, conforme Jesus e os apóstolos haviam ensinado, em favor do sacerdócio e hierarquia exclusivos que se desenvolveram na cristandade. (Mateus 5:14-16; Romanos 10:13-15; 1 Pedro 3:15) Durante o primeiro século, após a morte de Jesus, seus apóstolos, junto com outros anciãos cristãos espiritualmente qualificados de Jerusalém, trabalhavam para aconselhar e dirigir a congregação cristã. Nenhum deles exercia superioridade sobre os outros. — Gálatas 2:9.
No ano 49 EC, foi preciso que eles se reunissem em Jerusalém para resolver questões que afetavam os cristãos em geral. O relato bíblico nos diz que, depois duma consideração aberta, “pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos [pre·sbý·te·roi], junto com toda a congregação, enviar a Antioquia homens escolhidos dentre eles, junto com Paulo e Barnabé, . . . e escreveram por sua mão: ‘Os apóstolos e os anciãos, irmãos, aos irmãos em Antioquia, e Síria, e Cilícia, que são das nações: Cumprimentos!’” Evidentemente, os apóstolos e os anciãos serviam como órgão governante para as amplamente espalhadas congregações cristãs. — Atos 15:22, 23.
Então, visto que aquele grupo governante em Jerusalém era o primitivo arranjo cristão para a supervisão geral sobre todos os cristãos, que sistema de direção tinham eles em cada congregação, a nível local? A carta de Paulo a Timóteo torna claro que as congregações tinham superintendentes (grego: e·pí·sko·pos, origem da palavra “episcopal”) que eram anciãos espirituais (pre·sbý·te·roi), homens que, por sua conduta e sua espiritualidade, estavam qualificados para ensinar seus concristãos. (1 Timóteo 3:1-7; 5:17) No primeiro século, esses homens não constituíam uma classe clerical separada. Não usavam roupa distintiva. O que os distinguia era sua espiritualidade. De fato, cada congregação tinha um corpo de anciãos (superintendentes), não um governo monárquico de um só homem. — Atos 20:17; Filipenses 1:1.
Foi apenas com o tempo que a palavra e·pí·sko·pos (administrador, superintendente) foi convertida em “bispo”, que significa um sacerdote com jurisdição sobre outros membros do clero em sua diocese. Como explica o jesuíta espanhol Bernardino Llorca: “De início, não havia suficiente distinção entre os bispos e os presbíteros, e dava-se atenção apenas ao significado das palavras: bispo é o equivalente de superintendente; presbítero é o equivalente de homem mais velho. . . . Mas, aos poucos, a distinção se tornou mais clara, passando o nome bispo a designar os superintendentes mais importantes, que detinham a suprema autoridade sacerdotal e o direito de ordenar sacerdotes pela imposição das mãos.” (Historia de la Iglesia Católica) De fato, os bispos passaram a atuar numa espécie de sistema monárquico, especialmente a partir do começo do quarto século. Foi estabelecida uma hierarquia, ou corpo regente de clérigos e, com o tempo, o bispo de Roma, afirmando ser o sucessor de Pedro, foi reconhecido por muitos como o supremo bispo e papa.
Hoje, o cargo de bispo nas diferentes religiões da cristandade é um cargo de prestígio e poder, usualmente bem remunerado, e não raro identificado com a elite dominante em cada nação. Mas, entre sua posição orgulhosa e enaltecida e a simplicidade de organização sob Cristo e os anciãos, ou superintendentes, das primitivas congregações cristãs, há uma enorme diferença. E que dizer do abismo entre Pedro e seus chamados sucessores, que têm dominado no suntuoso Vaticano? — Lucas 9:58; 1 Pedro 5:1-3.
Poder e Prestígio Papal
Entre as primitivas congregações que aceitaram ser dirigidas pelos apóstolos e anciãos de Jerusalém estava a de Roma, onde a verdade cristã provavelmente chegou algum tempo depois de Pentecostes de 33 EC. (Atos 2:10) Como qualquer outra congregação cristã da época, tinha anciãos, que serviam como corpo de superintendentes sem nenhum deles ter a primazia. Por certo, nenhum dos primitivos superintendentes da congregação de Roma foi encarado por seus contemporâneos como bispo ou papa, visto que o episcopado monárquico em Roma ainda não viera à existência. Exatamente quando começou o episcopado monárquico, ou de um só homem, é difícil de determinar. A evidência indica que começou a se desenvolver no segundo século. — Romanos 16:3-16; Filipenses 1:1.
O título “papa” (do grego pá·pas, pai) não foi usado durante os dois primeiros séculos. O ex-jesuíta Michael Walsh explica: “Parece que a primeira vez que um Bispo de Roma foi chamado de ‘Papa’ foi no terceiro século, e o título foi dado ao Papa Calisto . . . Por volta do fim do quinto século, ‘Papa’ usualmente se referia ao Bispo de Roma e a ninguém mais. Foi só no século 11, porém, que um Papa podia insistir que esse título se aplicava só a ele.” — História Ilustrada dos Papas (em inglês).
Um dos primeiros bispos de Roma a impor a sua autoridade foi o Papa Leão I (papa de 440-461 EC). Michael Walsh explica adicionalmente: “Leão apropriou-se do título outrora pagão de Pontifex Maximus, ainda hoje usado pelos papas, e que era usado, até fins do quarto século, pelos imperadores romanos.” Leão I baseou suas ações na interpretação católica das palavras de Jesus em Mateus 16:18, 19. (Veja quadro, página 268.) Ele “declarou que, uma vez que São Pedro era o primeiro dentre os Apóstolos, a igreja de São Pedro devia receber primazia entre as igrejas”. (As Religiões do Homem [em inglês]). Com esse gesto, Leão I deixou claro que, ao passo que o imperador detinha poder temporal em Constantinopla, no Oriente, ele exercia poder espiritual a partir de Roma, no Ocidente. Um exemplo ilustrativo desse poder deu-se quando o Papa Leão III coroou Carlos Magno como imperador do Santo Império Romano, em 800 EC.
Desde 1929, o papa de Roma é encarado por governos seculares como governante de um estado soberano independente, a Cidade do Vaticano. Assim, a Igreja Católica Romana, como prerrogativa que nenhuma outra organização religiosa tem, pode enviar representantes diplomáticos, ou núncios, aos governos do mundo. (João 18:36) O papa é honrado com muitos títulos, tais como Vigário de Jesus Cristo, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Supremo Pontífice da Igreja Universal, Patriarca do Ocidente, Primaz da Itália, Soberano da Cidade do Vaticano. Ele é carregado com pompa e cerimônia. Concedem-se-lhe as honras de chefe de Estado. Em contraste, note como Pedro, supostamente o primeiro papa e bispo de Roma, reagiu quando o centurião romano Cornélio prostrou-se aos seus pés a fim de prestar-lhe homenagem: “Pedro ergueu-o, dizendo: ‘Levanta-te; eu mesmo também sou homem.’” — Atos 10:25, 26; Mateus 23:8-12.
A pergunta agora é: Como foi possível que a igreja apóstata daqueles primeiros séculos chegasse a acumular tanto poder e prestígio? Como foi que a simplicidade e a humildade de Cristo e dos cristãos primitivos se transformaram no orgulho e na pompa da cristandade?
Os Fundamentos da CristandadeO ponto decisivo dessa nova religião no Império Romano foi 313 EC, a data da chamada conversão do imperador Constantino ao “cristianismo”. Como ocorreu essa conversão? Em 306 EC, Constantino sucedeu a seu pai e, por fim, junto com Licínio, tornou-se co-regente do Império Romano. Ele foi influenciado pela devoção de sua mãe ao cristianismo e pela sua própria crença na proteção divina. Antes de ir para uma batalha perto de Roma, na Ponte Milvius, em 312 EC, ele afirmou que lhe fora dito num sonho que pintasse o monograma “cristão” — as letras gregas khi e rho, as primeiras duas letras do nome de Cristo em grego — nos escudos de seus soldados. Com esse ‘talismã sagrado’, as forças de Constantino derrotaram seu inimigo Maxêncio.
Pouco depois de vencer a batalha, Constantino afirmou que se tornara crente, embora não fosse batizado senão pouco antes de sua morte, uns 24 anos mais tarde. Ele passou a obter o apoio de professos cristãos em seu império “pela adoção das [letras gregas] Chi-Rho [Artwork − caracteres gregos] como seu emblema . . . O Chi-Rho já tinha sido, contudo, usado como ligadura [junção de letras] em contextos tanto pagãos como cristãos”. — O Crisol do Cristianismo, editado por Arnold Toynbee.
Em resultado, os fundamentos da cristandade estavam lançados. Como o radialista britânico Malcolm Muggeridge escreveu em seu livro O Fim da Cristandade (em inglês): “A cristandade começou com o imperador Constantino.” Mas, fez também o seguinte comentário discernidor: “Pode-se até dizer que o próprio Cristo aboliu a cristandade antes que ela surgisse, por declarar que seu reino não era deste mundo — uma de suas declarações de maior alcance e importância.” E uma das mais amplamente desconsideradas pelos governantes religiosos e políticos da cristandade. — João 18:36.
Com o apoio de Constantino, a religião da cristandade tornou-se a religião estatal oficial de Roma. Elaine Pagels, professora universitária de religião, explica: “Os bispos cristãos, outrora alvos de prisão, tortura e execução, recebiam agora isenção de impostos, dádivas do tesouro imperial, prestígio, e até mesmo influência nos tribunais; suas igrejas ganhavam nova riqueza, poder e destaque.” Haviam-se tornado amigos do imperador, amigos do mundo romano. — Tiago 4:4.
Constantino, Heresia e OrtodoxiaPor que foi tão significativa a “conversão” de Constantino? Porque, como imperador, ele tinha poderosa influência nos assuntos da doutrinalmente dividida igreja “cristã”, e ele queria união no seu império. Naquele tempo ocorria um acalorado debate entre os bispos de língua grega e de língua latina sobre a “relação entre a ‘Palavra’ ou ‘Filho’ de ‘Deus’ que se encarnara em Jesus, e o próprio ‘Deus’, chamado agora de ‘o Pai’ — seu nome, Yahweh, tendo sido, em geral, esquecido”. (A História do Mundo, de Colúmbia [em inglês]) Alguns eram a favor do conceito apoiado pela Bíblia de que Cristo, o Ló?gos, foi criado e, portanto, estava subordinado ao Pai. (Mateus 24:36; João 14:28; 1 Coríntios 15:25-28) Entre estes havia Ário, um sacerdote de Alexandria, Egito. De fato, R. P. C. Hanson, professor de teologia, diz: “Não há teólogo na Igreja Oriental ou Ocidental antes da erupção [no quarto século] da Controvérsia Ariana que de algum modo não considere o Filho subordinado ao Pai.” — A Busca da Doutrina Cristã Sobre Deus (em inglês).
Outros consideravam esse conceito da subordinação de Cristo como heresia, e penderam mais para a adoração de Jesus como “Deus Encarnado”. Não obstante, o professor Hanson diz que o período em questão (o quarto século) “não foi uma história da defesa de uma convencionada e estabelecida ortodoxia [trinitarista] contra os ataques de franca heresia [arianismo]. Sobre o assunto que primariamente estava em discussão, ainda não havia uma doutrina ortodoxa”. Ele continua: “Todos os lados criam que tinham a autoridade das Escrituras a seu favor. Cada qual rotulava os outros de não-ortodoxos, não-tradicionais e antibíblicos.” As fileiras religiosas estavam totalmente divididas nessa questão teológica. — João 20:17.
Constantino queria união no seu domínio e, em 325 EC, convocou um concílio de seus bispos em Nicéia, localizada na oriental região de língua grega de seu império, do outro lado do Bósforo, defronte à nova cidade de Constantinopla. Consta que compareceram uns 250 a 318 bispos, apenas uma minoria do total, e a maioria dos que compareceram era da região de língua grega. Nem mesmo o Papa Silvestre I compareceu. Depois de ferozes debates, desse nada representativo concílio surgiu o Credo de Nicéia, com a sua forte inclinação para o pensamento trinitarista. Todavia, não resolveu a discussão doutrinal. Não esclareceu o papel do espírito santo de Deus na teologia trinitarista. Os debates duraram décadas e, para conseguir uma conformidade final, foram necessários mais concílios, a autoridade de diferentes imperadores e o recurso ao banimento. Foi uma vitória para a teologia e uma derrota para os que se apegavam às Escrituras. — Romanos 3:3, 4.
Com o decorrer dos séculos, um dos resultados do ensino da Trindade foi que o único Deus verdadeiro, Jeová, tem sido afundado no atoleiro da teologia do Deus-Cristo da cristandade. A próxima conseqüência lógica dessa teologia foi que, se Jesus realmente era Deus Encarnado, então, a mãe de Jesus, Maria, obviamente era a “Mãe de Deus”. Com os anos, isso tem levado à veneração de Maria de muitas diferentes maneiras, apesar da total falta de textos que falem de Maria num papel de importância, exceto como a humilde mãe biológica de Jesus. (Lucas 1:26-38, 46-56) No decorrer dos séculos, o ensino da Mãe-de-Deus foi desenvolvido e ornado pela Igreja Católica Romana, resultando em que muitos católicos veneram Maria com muito maior fervor do que adoram a Deus.
Os Cismas da Cristandade
Outra característica da apostasia é que ela leva à divisão e à fragmentação. O apóstolo Paulo profetizara: “Sei que depois de eu ter ido embora entrarão no meio de vós lobos opressivos e eles não tratarão o rebanho com ternura, e dentre vós mesmos surgirão homens e falarão coisas deturpadas, para atrair a si os discípulos.” Paulo dera claro conselho aos coríntios, ao declarar: “Exorto-vos agora, irmãos, por intermédio do nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que todos faleis de acordo, e que não haja entre vós divisões, mas que estejais aptamente unidos na mesma mente e na mesma maneira de pensar.” Apesar da exortação de Paulo, a apostasia e as divisões logo se instalaram. — Atos 20:29, 30; 1 Coríntios 1:10.
Poucas décadas após a morte dos apóstolos, os cismas já se haviam manifestado entre os cristãos. Will Durant diz: “O próprio Celso [oponente do cristianismo, do segundo século] havia sarcasticamente observado que os cristãos ‘se dividiam em muitas facções, cada um desejando ter o seu próprio partido’. Lá por 187 [EC] Irineu colecionou 20 variedades de cristianismo; em 384 [EC] Epifânio contou 80.” — A História da Civilização: Volume III — César e Cristo.
Constantino prestigiou a parte Oriental, grega, de seu império, construindo uma ampla nova capital no que é hoje a Turquia. Chamou-a de Constantinopla (moderna Istambul). O resultado foi que ao longo dos séculos a Igreja Católica ficou polarizada e dividida, tanto lingüística como geograficamente — Roma de língua latina no Ocidente versus Constantinopla de língua grega no Oriente.
Debates divisórios sobre aspectos do então ainda em desenvolvimento ensino da Trindade, continuaram a causar tumulto na cristandade. Em 451 EC realizou-se outro concílio, em Calcedônia, para definir o caráter das “naturezas” de Cristo. Ao passo que o Ocidente aceitou o credo promulgado por esse concílio, as igrejas orientais discordaram, levando à formação da Igreja Cóptica, no Egito e na Abissínia, e das igrejas “jacobitas” da Síria e da Armênia. A união da Igreja Católica era constantemente ameaçada por divisões sobre abstrusos assuntos teológicos, especialmente com relação à definição da doutrina da Trindade.
Outra causa de divisão era a veneração de imagens. Durante o oitavo século, os bispos orientais rebelaram-se contra essa idolatria, e entraram no chamado período iconoclástico, ou de destruição de imagens. Com o tempo, voltaram ao uso de ícones. — Êxodo 20:4-6; Isaías 44:14-18.
Outro grande teste surgiu quando a igreja ocidental acrescentou a palavra latina filioque (“e do Filho”) ao Credo de Nicéia, para indicar que o Espírito Santo procedia tanto do Pai como do Filho. O resultado dessa emenda do sexto século foi uma cisão quando “em 876 um sínodo [de bispos] em Constantinopla condenou o papa tanto por suas atividades políticas como por não ter corrigido a heresia da cláusula do filioque. Essa ação fazia parte da total rejeição, pelo Oriente, da reivindicação do papa de exercer jurisdição universal sobre a Igreja”. (As Religiões do Homem) No ano 1054, o representante do papa excomungou o patriarca de Constantinopla, que, por sua vez, amaldiçoou o papa. Essa cisão por fim levou à formação das Igrejas Ortodoxas Orientais — grega, russa, romena, polonesa, búlgara, sérvia e outras igrejas autônomas.
Ainda outro movimento começava a causar tumulto na igreja. No século 12, Pedro Valdo, de Lião, França, “contratou alguns eruditos para traduzirem a Bíblia na langue d’oc [uma língua regional] do sul da França. Ele estudou com afinco a tradução, e chegou à conclusão de que os cristãos deviam morrer como os apóstolos — sem a posse de qualquer propriedade”. (A Idade da Fé, de Will Durant) Ele iniciou um movimento de pregação que ficou conhecido como os valdenses. Estes rejeitavam o sacerdócio católico, as indulgências, o purgatório, a transubstanciação e outras práticas e crenças católicas tradicionais. Expandiram-se também a outros países. O Concílio de Toulouse tentou refreá-los, em 1229, banindo a posse de livros das Escrituras. Permitia-se apenas livros de liturgia e, ainda por cima, na língua morta, o latim. No entanto, mais divisão e perseguição religiosa estavam por vir.
Perseguição aos Albigenses
Ainda outro movimento iniciou-se no século 12, no sul da França — os albigenses (também conhecidos como cátaros), nome derivado da cidade de Albi, onde eles tinham muitos seguidores. Tinham a sua própria classe clerical celibatária, que esperava ser saudada com reverência. Criam que Jesus falou de modo figurativo em sua última ceia, ao dizer a respeito do pão: “Isto é o meu corpo.” (Mateus 26:26, Al) Rejeitavam as doutrinas da Trindade, do nascimento virginal, do inferno de fogo e do purgatório. Assim, ativamente lançavam dúvidas sobre os ensinos de Roma. O Papa Inocêncio III ordenou que os albigenses fossem perseguidos. “Se necessário”, disse ele, “suprimi[-os] com a espada”.
Organizou-se uma cruzada contra os “hereges”, e os cruzados católicos massacraram 20.000 homens, mulheres e crianças em Béziers, na França. Após muito derramamento de sangue, veio a paz, em 1229, com a derrota dos albigenses. O Concílio de Narbona “proibiu que os leigos mantivessem consigo qualquer parcela da Bíblia”. A raiz do problema para a Igreja Católica evidentemente era a existência da Bíblia na língua do povo.
A próxima medida da igreja foi fundar a Inquisição, um tribunal instituído para suprimir a heresia. As pessoas já eram dominadas por um espírito de intolerância, e elas eram supersticiosas e de muita prontidão para linchar e assassinar os “hereges”. As condições existentes no século 13 prestavam-se ao abuso do poder pela igreja. Contudo, “os hereges condenados pela Igreja tinham de ser entregues às ‘armas seculares’ — autoridades locais — para morrerem queimados”. (A Idade da Fé) Por deixar a execução propriamente dita a cargo das autoridades seculares, a igreja ficaria ostensivamente livre de culpa de sangue. A Inquisição iniciou uma era de perseguição religiosa que resultou em abusos, denúncias falsas e anônimas, assassinato, roubo, tortura e morte lenta de milhares de pessoas que ousavam crer diferente do que cria a igreja. A liberdade de expressão religiosa estava sufocada. Havia esperança para os que buscavam o verdadeiro Deus? O Capítulo 13 responderá a essa pergunta.
Enquanto tudo isso acontecia na cristandade, um solitário árabe no Oriente Médio tomou uma posição contra a apatia religiosa e a idolatria de seu próprio povo. Iniciou um movimento religioso no sétimo século que hoje demanda a obediência e a submissão de cerca de um milhão de pessoas. Este movimento é o islamismo. O nosso próximo capítulo considerará a história de seu profeta-fundador e explicará alguns de seus ensinos e sua origem.

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